A família Esposito, composta por seis pessoas, partiu de Nápoles, na Itália, em direção ao Brasil em 1889, junto com centenas de outros imigrantes daquela região meridional. Eles esperavam encontrar uma vida melhor do outro lado do oceano, mas em vez disso encontraram uma viagem cheia de dificuldades. A bordo do navio em que viajavam, uma epidemia de cólera se espalhou rapidamente entre os passageiros e tripulantes, deixando muitos deles doentes e fracos. Muitos imigrantes e alguns tripulantes morreram durante a travessia e foram sepultados no mar.
A jornada de navio dos Esposito começou com muito entusiasmo e esperança. A família se despedia de seus parentes e amigos em Nápoles com lágrimas nos olhos e corações pesados, mas com a promessa de um futuro melhor. No entanto, a viagem não foi tão tranquila quanto eles imaginavam.
Logo na primeira semana a bordo, o chefe da família, Vittorio, começou a sentir-se mal. Ele tinha febre alta, dores abdominais e muita diarreia. A mãe, Maria, ficou preocupada e pediu ajuda ao médico do navio. Mas o médico, um jovem profissional recém saído dos bancos da Universidade de Nápoles, não tinha muita experiência com epidemias e logo muitos outros passageiros começaram a apresentar os mesmos sintomas.
Os dias se passavam e a situação a bordo piorava. O cólera se espalhou rapidamente pelo navio, deixando muitos passageiros doentes e fracos. A comida e a água que eram escassas, e a higiene bastante precária. Maria tentava manter a calma e cuidar de sua família, mas estava cada vez mais difícil.
Já tinham ocorrido diversas mortes entre os passageiros mais debilitados, quase todos idosos ou crianças. A situação chegou a um ponto crítico quando o navio se aproximou do porto do Rio de Janeiro, onde esperavam ser recebidos e tratados para controlar a epidemia. Mas, para surpresa de todos, as autoridades sanitárias brasileiras se recusaram a permitir a entrada do navio no porto. O medo de que a epidemia se espalhasse pelo país foi a justificativa dada e esta era a conduta que todos os países do mundo adotavam para casos semelhantes.
A família Esposito e os demais passageiros ficaram desesperados. Eles não sabiam o que fazer ou para onde ir. Muitos passageiros morreram durante essa espera no navio, e a situação se tornou ainda mais desesperadora quando a comida e a água acabaram.
Os Esposito e os sobreviventes da epidemia foram obrigados a permanecerem a bordo do navio por dias, com ele ancorado em alto mar, a alguns quilômetros fora do porto, à espera da autorização de desembarque das autoridades brasileiras. Foram dias muito tensos, de grande angústia e incerteza para todos. A única coisa que podiam fazer era orar e esperar por um milagre.
Finalmente, depois de muito tempo, veio a temida notícia que ninguém queria ouvir: as autoridades sanitárias brasileiras não permitiram que os passageiros e a tripulação desembarcassem e nem mesmo que o navio ancorasse no porto. Era o tão temido "Torna Viagem" quando os imigrantes estavam quase concretizando o sonho de uma vida nova, viam seus planos irem por água abaixo, e necessitavam retornar à Nápoles.
O "Torna Viagem" foi um processo que ocorreu no Brasil durante o século XIX, quando navios que transportavam imigrantes para o porto do Rio de Janeiro eram impedidos de desembarcar devido à ocorrência de epidemias a bordo, especialmente o temível cólera. Em vez de desembarcar os passageiros, esses navios eram obrigados a retornar para seus portos de origem com todos os imigrantes a bordo.
Esse processo foi adotado como medida preventiva para evitar a propagação de doenças contagiosas no país. Os navios que chegavam ao porto do Rio de Janeiro eram submetidos a inspeções sanitárias rigorosas e, caso fossem detectados casos de doenças contagiosas com a ocorrência de mortes durante a viagem, especialmente o temível cólera, os passageiros eram impedidos de desembarcar. Esses navios eram então obrigados a retornar para seus portos de origem com toda a sua carga de sofrimento a bordo, em um processo conhecido como "Torna Viagem".
O processo de "Torna Viagem" foi bastante controverso na época, pois muitos outros imigrantes morriam durante a viagem de retorno devido às condições precárias a bordo e à falta de assistência médica adequada. Além disso, muitos imigrantes que chegavam ao Brasil em busca de uma vida melhor acabavam sendo obrigados a retornar para seus países de origem sem conseguir realizar seus sonhos.
Apesar das críticas, o processo de "Torna Viagem" foi mantido no Brasil até o início do século XX, quando medidas mais eficazes de controle de doenças contagiosas foram implementadas. Hoje, o "Torna Viagem" é lembrado como um triste capítulo da história da imigração no Brasil.
Os Esposito e os demais passageiros, depois de mais de vinte dias de sofrimento em um navio que enfrentava uma grave epidemia de cólera, finalmente chegaram no porto de Nápoles, foram retirados do navio, mas muitos deles estavam em estado grave. Os médicos e as autoridades locais trabalharam arduamente para controlar a epidemia e ajudar os doentes foram encaminhados para um hospital de Napoli, onde receberam tratamento e cuidados médicos.
A epidemia de cólera que os Esposito e os demais passageiros enfrentaram durante a viagem foi uma experiência traumática que os marcou para sempre. Eles aprenderam a valorizar a vida e a saúde, e a nunca subestimar os perigos que as doenças podem trazer.
O desejo de fugir da Itália era tão forte que logo após se recuperarem da doença, Vittorio e a família decidiram que era hora de recomeçar e empreenderam novamente a viagem para o Brasil. Desta vez a viagem foi tranquila e chegaram com saúde ao Rio de Janeiro. Eles tinham perdido tudo o que possuíam durante aquela fatídica viagem, mas estavam determinados a reconstruir suas vidas no Brasil. Eles conseguiram um contrato de trabalho no interior do estado de São Paulo, em uma grande fazenda de café.
A vida na fazenda não era fácil, mas já era uma melhoria em relação à situação em que se encontravam na Itália e durante a viagem de navio. Eles trabalhavam duro limpando os milhares de pés de café a eles confiados, fazendo economia de todo o dinheiro que conseguiam ganhar, na esperança de melhorar suas condições de vida no futuro.
De fato, com o tempo, a família Rossi conseguiu comprar e se estabelecer em um lote na periferia de uma cidade paulista e principalmente prosperar. Mais tarde chegaram a abrir um pequeno negócio para comercializar os produtos que produziam em seu pequeno sítio. Aos poucos, este comércio se tornou um ponto de referência na cidade, e eles passaram a ser respeitados e admirados pela comunidade.
Apesar de tudo o que passaram, os Esposito nunca esqueceram das dificuldades que enfrentaram durante aquela viagem de navio. Eles sempre lembravam da epidemia de cólera que quase lhes custou a vida, e do medo e incerteza que sentiram a bordo do navio e a desilusão de ter que retornar para a Itália.
A família Esposito se tornou um exemplo de resiliência e superação, e sua história inspirou muitas outras pessoas a lutar por um futuro melhor.
Conto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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