Os Imigrantes italianos no Rio Grande do Sul

 

Sociedade Italiana da Colônia de Conde D'Eu

 

No final do século XIX, muitos imigrantes italianos começaram a deixar sua terra natal em busca de uma vida melhor em outros países. O Brasil, em particular, na época era um destino popular, conhecido como o "el dorado" e muitos imigrantes italianos acabaram se estabelecendo no estado do Rio Grande do Sul.

A região era conhecida por sua rica terra para a agricultura e a presença de outras comunidades de imigrantes, como por exemplo de alemães, que já estavam estabelecidos na região, a tornavam um lugar atraente para aqueles que buscavam uma nova vida.

A jornada para o Brasil não era fácil para os imigrantes italianos. Muitos tinham que viajar grandes distâncias de trem desde as suas aldeias e vilas para chegar ao porto de embarque, muitas vezes a pé ou em carroças puxadas por cavalos para alcançarem a estação  de mais próxima. Chegando ao porto, muitos tiveram que esperar por dias ou semanas, sem abrigo e sem muitas reservas de alimentos trazidos de casa, gastando a suadas economias que tinham conseguido com a venda de algum bem, antes de embarcar em um navio, geralmente de carga e improvisado rapidamente para aproveitar o boom da emigração, os quais frequentemente estavam em precárias condições para alojar os passageiros. A travessia do oceano era longa e perigosa, e muitos imigrantes devido as condições insalubres sofriam de doenças e fome durante a viagem.

Quando finalmente chegavam ao Brasil, geralmente pelo porto do Rio de Janeiro ou mais tarde pelo de Santos, os imigrantes italianos precisavam percorrer mais um grande trecho da jornada até alcançar o estado do Rio Grande do Sul. Entravam na grande Lagoa dos Patos pelo porto de Rio Grande e cidade de Pelotas, de onde embarcando em pequenos navios a motor atravessavam a lagoa em direção à Porto Alegre e desta capital do estado continuavam a viagem subindo  pelos  rios Jacuí e o Caí em direção as colônias a que estavam destinados. Do porto de desembarque, seguiram a pé ou carroças para as colônias que haviam sido estabelecidas para os imigrantes italianos.

As colônias de Caxias, Dona Isabel, Conde D'Eu e Silveira Martins, esta última na região central do estado, próxima a cidade de Santa Maria, foram algumas das principais áreas de assentamento para os imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. Eles foram atraídos pelas oportunidades de trabalho na agricultura e mais ainda pela possibilidade de se tornarem proprietários das suas terras. De fato muitos conseguiram comprar suas próprias terras e começar a cultivar suas próprias safras, sem precisarem dividir a colheita com um patrão dono da terra, uma coisa impensável na Itália. A vida nas colônias era realmente muito dura, mas aos poucos os imigrantes italianos foram progredindo, se unindo para ajudar uns aos outros, formando comunidades fortes e coesas.

Apesar de todas as adversidades, os imigrantes italianos conseguiram prosperar na região do Rio Grande do Sul. Mesmo sendo a maioria deles composta por analfabetos, não eram incultos, eles trouxeram consigo suas tradições culturais, modos de vida e culinária, criando uma mistura única de culturas no estado. Milhões de seus descendentes ainda vivem na região e mantêm vivas as tradições de seus antepassados.

Hoje, as antigas colônias de Caxias, Dona Isabel, Conde D'Eu e Silveira Martins são importantes destinos turísticos no estado do Rio Grande do Sul. Os visitantes podem explorar as tradições culturais italianas ainda muito presentes e conservados na região, visitar grandes vinícolas e degustar espumantes e vinhos finos produzidos pelos descendentes dos imigrantes italianos além de experimentar a rica e deliciosa gastronomia italiana, que se tornou uma parte importante da cultura gastronômica do estado. 

A jornada dos imigrantes italianos para o Brasil e para o estado do Rio Grande do Sul, uma verdadeira epopéia, é uma parte importante da história da região e um lembrete da força e determinação daqueles que buscam uma vida melhor em um novo país.

A chegada dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul foi uma das mais significativas na história do estado. Eles trouxeram consigo uma riqueza cultural e conhecimentos na agricultura, contribuindo para o desenvolvimento econômico da região. Apesar das dificuldades encontradas na viagem e no início da vida nas isoladas colônias, os imigrantes italianos conseguiram se adaptar à nova realidade e rapidamente prosperar criando ricas cidades onde antes só existiam florestas.

Muitos imigrantes italianos tiveram que enfrentar dificuldades durante a viagem de navio na travessia do oceano Atlântico. Além dos problemas de doenças que a superlotação favorecia, também a fome, a falta de higiene e de espaço nos velhos navios também contribuiu para a morte de muitos passageiros, os quais eram sepultados rapidamente no mar após uma breve e reservada cerimonia de  despedida, enrolados em lençóis ou lonas, costurados entorno do corpo e com uma grande pedra amarrada nos pés para que afundasse rapidamente.  

A travessia do oceano Atlântico podia durar de um a três meses, dependendo das condições climáticas e do navio em que estavam e da época em que ocorreu a emigração. Muitos deles muito lentos, principalmente nos primeiros anos da emigração, quando a frota italiana era composta por ultrapassados navios de carga, velhos e mal conservados. Os imigrantes italianos a bordo, em número quase sempre superior a lotação permitida, eram confinados em pequenos espaços do navio, sem ventilação adequada e sujeitos a um ambiente insalubre propício para a proliferação de doenças. 

No Brasil, os imigrantes italianos foram recebidos em portos como o do Rio de Janeiro e de Santos, no estado de São Paulo, onde muitos desembarcaram antes de seguirem viagem para o Rio Grande do Sul. A maioria das colônias italianas estabelecidas na região foram criadas e administradas pelo governo imperial e depois pelo da província. 

A colônia Caxias, por exemplo, foi fundada em 1875 pelo governo imperial brasileiro. A colônia tinha como objetivo principal produzir alimentos de primeira necessidade para os grandes centros consumidores como o de Porto Alegre, atividades essas que continuaram sendo incentivadas pelo governo provincial da época. O clima do Rio Grande do Sul muito parecido com aquele da Itália que tinham deixado e o fértil solo da região eram propícios para o plantio de vários cultivos agrícolas e a produção de uvas, e os imigrantes italianos conseguiram prosperar com o cultivo desta fruta fundando muitas vinícolas importantes. 

Colônia Dona Isabel

Em Dona Isabel, atual Bento Gonçalves, uma das primeiras colônias italianas a serem estabelecidas no estado, os imigrantes italianos enfrentaram grandes desafios devido aos acidentes geográficos, no entanto, com muito trabalho e anos de dedicação, eles conseguiram prosperar e transformar a região em um centro produtor de frutas, especialmente uvas, pêssegos e ameixas.
Conde D'Eu, atual cidade de  Garibaldi foi fundada em 1876 por iniciativa de empresários italianos e franceses, que investiram na produção de vinhos e frutas. A colônia tinha uma localização privilegiada, próxima ao rio Caí, o que facilitou o transporte das mercadorias produzidas para outras regiões do estado.

Silveira Martins foi outra colônia italiana estabelecida na região do Rio Grande do Sul. A colônia foi a última das quatro grandes e tradicionais, fundada em 1885 e foi responsável pela produção de uvas, vinhos e cereais. Os imigrantes italianos se estabeleceram na região e criaram uma comunidade forte e unida, que contribuiu para o desenvolvimento da região.

A chegada dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul deixou um legado importante para o estado. Eles contribuíram para o desenvolvimento da agricultura, introduziram novas técnicas e culturas e também influenciaram o modo de falar com a criação do Talian, a cultura em geral e a gastronomia local. Inúmeros dos pratos típicos do Rio Grande do Sul têm influência italiana.

Além disso, os imigrantes italianos também trouxeram consigo a religião católica, que se tornou predominante na região. Eles construíram igrejas e capelas, muitas das quais ainda existem e são consideradas patrimônios históricos.

No entanto, a vida nas colônias não era fácil. Os imigrantes italianos enfrentaram diversos desafios, como a adaptação ao clima e ao solo, o trabalho pesado na agricultura e a falta de infraestrutura básica, como água potável e saneamento. Além disso, muitos foram explorados por empresários que ofereciam empréstimos com juros altos e preços exorbitantes por produtos básicos.

Apesar dessas dificuldades, os imigrantes italianos perseveraram e construíram uma vida melhor para si e para suas famílias. Eles formaram comunidades fortes e unidas, mantendo suas tradições e cultura vivas. Hoje em dia, é possível encontrar muitas comunidades de descendentes de italianos no Rio Grande do Sul, que mantêm suas tradições e costumes italianos, como a língua e a culinária.

A contribuição dos imigrantes italianos para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul é inegável. Eles ajudaram a transformar a região em um dos mais importantes polos industriais do Brasil e também em um centro produtor de alimentos e bebidas, além de influenciarem a cultura e a religião de todo o estado. Seus descendentes ainda hoje, continuam a honrar suas raízes italianas e a contribuir para o desenvolvimento do estado.

Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS

Imigração Italiana em Minas Gerais

 



Minas Gerais também foi um dos estados brasileiros que recebeu imigrantes italianos, ficando em número somente atrás de São Paulo e Rio Grande do Sul. Segundo os dados disponíveis sabemos que cerca de 60.000 italianos chegaram neste estado durante os anos da grande imigração nos 25 anos finais do século XIX e os primeiros do século XX, antes da primeira guerra mundial. 

As causas dessa imigração também é semelhante aquela de São Paulo, com a libertação dos escravos em 1888, os colonos italianos foram trazidos para substituir essa mão de obra nas lavouras de café. Diferente de São Paulo foi o estado de Minas Gerais que se encarregou de organizar a vinda dos imigrantes e os obrigava, e também aos fazendeiros, a pagarem a passagem de navio. A imigração subvencionada em Minas teve início em 1867 e só durou até 1879.A imigração para Minas Gerais não foi tão grande como para outros estados brasileiros. O problema da mão de obra no século XIX, que afetou outras províncias, não foi tão grave em Minas. Isto porque contava com a maior população escrava do Brasil e, com a decadência da mineração, essa mão de obra foi desviada para a agricultura, principalmente para as lavouras de café da Zona da Mata.


Foram raros os fazendeiros mineiros que imitaram o exemplo de São Paulo e atraíram trabalhadores livres estrangeiros para as suas propriedades. Enquanto São Paulo investia na introdução de imigrantes, em Minas predominou o escravo, com grande concentração nas áreas cafeeiras. Na época da Abolição da Escravatura, quando as fazendas de café de São Paulo já estavam cheias de imigrantes, em Minas ainda se apostava no trabalho escravo e o uso dessa mão de obra continuou por alguns anos, mesmo após a abolição. Havia um desinteresse tanto do governo mineiro como dos proprietários de terra na atração de imigrantes. Segundo essas mesmas pesquisas realizadas em áreas cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais, mostram que os ex-escravos não abandonaram as fazendas após a abolição e não foram completamente substituídos pelos imigrantes europeus. Muitas vezes continuavam trabalhando nas mesmas fazendas ou se deslocavam para outras. Como exemplo nas fazendas de café de São Carlos interior de São Paulo, apesar do nítido predomínio de trabalhadores italianos, ainda continuavam com número expressivo de trabalhadores brasileiros, incluindo negros e mulatos. Também os estudos constataram que os trabalhadores nacionais, em especial os negros e mulatos, após a abolição, sofreram preconceito por parte dos fazendeiros, que muitas vezes preferiam contratar imigrantes europeus do que os trabalhadores nacionais.



No final do século XIX, em 1898, uma grave crise financeira se abateu sobre o estado que se viu obrigado a suspender a imigração subsidiada. Foi somente após 1894 que o estado firmou os contratos para trazer imigrantes. No ano de 1895 chegaram em Minas Gerais 6.422 imigrantes italianos e no ano seguinte este número saltou para 18.999, decrescendo para 17.303 em 1897. A partir de então o número caiu drasticamente para 2.111 em 1898 e somente 41 imigrantes em 1901. 

Os imigrantes aportavam no Rio de Janeiro e após uma passagem pela Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, embarcavam em trens que os transportavam até Petrópolis e desta cidade seguiam até Juiz de Fora, por estrada de rodagem, a chamada Estrada União e Indústria, a primeira rodovia macadamizada da América Latina, inaugurada em 23 de junho de 1861 por Dom Pedro II. Em Juiz de Fora existiam grandes plantações de café e não ficava muito distante do Rio de Janeiro.




Ao chegarem em Juiz de Fora ficavam abrigados na Hospedaria Horta Barbosa, a maior do estado, que funcionava como a primeira acolhida aos imigrantes em solo mineiro. Esta hospedaria tinha a capacidade para abrigar seiscentas pessoas, mas, na verdade no período de quarentena, chegava a hospedar um número quatro vezes maior de imigrantes. Segundo os relatos da época, nesses períodos de grande movimento, surgiram relatos de falta de higiene, promiscuidade no local. Nesse local ficavam aguardando a chegada dos fazendeiros que ali faziam a seleção para trabalhar em suas propriedades. 

Os imigrantes italianos que chegaram em Minas Gerais provinham de diversas cidades de quatorze regiões da Itália, tanto do norte, centro e sul da península. Estes são dados obtidos no município mineiro de Leopoldina. Os estudos mostram a grande diversidade das origens dos imigrantes italianos em Minas Gerais embora, como na maior parte do Brasil, o Vêneto despontou como a região com maior presença.

Diferentemente dos outros estados brasileiros que receberam imigrantes italianos, Minas foi o único a receber um número significativo de imigrantes da Sardenha, que por sinal não se fixaram no Brasil, retornando para Itália após um período de dois anos. 

As colônias agrícolas formadas por italianos não tiveram grande relevância no contexto imigratório de Minas Gerais, ao contrário do que ocorreu nos estados do sul do país. Em 1900, em todo o estado de Minas Gerais as colônias abrigavam apenas 2.882 pessoas. Os núcleos coloniais eram áreas agrícolas nas quais os imigrantes viviam como pequenos proprietários. Esses núcleos apenas prosperaram nas regiões onde não havia plantações de café, como nos estados do Sul e mesmo no estado do Espírito Santo. Nas regiões cafeeiras, como São Paulo e Minas, as terras disponíveis à colonização eram marginais e escassas e o fluxo migratório era preferencialmente destinado às plantações de café.


Imigração Italiana para o Brasil de 1876 a 1920
Região de OrigemNúmero de ImigrantesRegião de OrigemNúmero de Imigrantes
Veneto365.710Sicília44.390
Campania166.080Piemonte40.336
Calabria113.155Puglia34.833
Lombardia105.973Marche25.074
Abruzzo e Molise93.020Lazio15.982
Toscana81.056Umbria11.818
Emlia Romagna59.877Liguria9.328
Basilicata52.888Sardenha6.113
Total : 1.243.633
 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS