O Preço da Esperança: As Doenças e o Sacrifício dos Imigrantes Italianos na Busca por Uma Vida Melhor no Brasil

 


Durante o século XIX e início do século XX, milhões de italianos migraram para as Américas, incluindo o Brasil, em busca de melhores oportunidades devido ao crescimento populacional, crises político-econômicas e escassez de alimentos na Itália. A viagem para o Brasil costumava ser longa e árdua, com imigrantes viajando de navio a vapor em condições precárias, mal acomodados. Os navios eram velhos, até então somente usados para transporte de mercadorias e precariamente adaptados para o transporte de passageiros. Esses navios, eram muitas vezes chamados de "navios da morte" pela imprensa italiana da época, estavam frequentemente superlotados e careciam de instalações sanitárias e médicas adequadas. A falta de higiene adequada e o confinamento forçado por várias semanas criavam as condições ideais para o surgimento e propagação de doenças entre os passageiros, afetando preferencialmente os mais debilitados, as crianças e os idosos. Na verdade as epidemias não eram incomuns nesses navios, e várias são os tristes relatos de imigrantes italianos que adoeceram e até perderam a vida durante a travessia. Um exemplo bem conhecido é o do navio Matteo Bruzzo, que experimentou um surto de cólera durante sua viagem de três meses em 1884, com inúmeros passageiros morrendo da doença. O navio não recebeu ordens para desembarcar seus passageiros, nem mesmo tripulantes puderam descer, empreendendo viagem de volta ao porto de saída na Itália. Medidas de quarentena foram implementadas a partir do século XIV para proteger as cidades costeiras de epidemias de peste e no decorrer do tempo se tornaram mais rígidas e usadas quando ocorria outras epidemias graves, como o cólera. Os navios que chegavam de portos infectados, ou que tivessem tido episódios de epidemia a bordo, eram obrigados a permanecer fundeados por um determinado período antes do desembarque. No final do século XIX, com o grande aumento das viagens transoceânicas facilitadas pelo surgimento dos navios a vapor, surtos de cólera em navios de passageiros que chegavam da Europa levaram à prática de protocolos de quarentena ainda mais rígidos. No entanto, essas medidas nem sempre eram eficazes na prevenção da propagação de doenças entre os imigrantes que já se encontravam a bordo. Com base nos resultados de documentos da época, cólera, tifo, sarampo e tuberculose foram as doenças mais comuns a bordo de navios que transportavam imigrantes italianos para o Brasil durante o século XIX e início do século XX. Ao chegar ao Brasil, a saúde dos imigrantes italianos provavelmente estava mais comprometida devido às doenças que contraíram durante a viagem. O sistema imunológico enfraquecido dos imigrantes os tornava mais suscetíveis a outras doenças presentes no Brasil. Ao chegarem em nosso país, os imigrantes italianos enfrentaram diversas condições de vida dependendo da região em que se instalaram. No sul do Brasil, os imigrantes italianos foram assentados em colônias isoladas, no meio da floresta, mais tarde em outros assentamentos mais desenvolvidos, em cidades maiores, como é o caso de Curitiba, enquanto no sudeste do Brasil vivenciavam condições similares a semi-escravidão nas grandes plantações de café. Muitas rebeliões contra os fazendeiros brasileiros ocorreram devido a essas duras condições, e as denúncias públicas causaram grande comoção na Itália chegando a proibição da saída de emigrantes para São Paulo.
Apesar dos desafios e riscos enfrentados pelos imigrantes durante a sua viagem para o Brasil, sua chegada contribuiu significativamente para o desenvolvimento econômico e a diversidade cultural do país. A grande maioria dos imigrantes italianos vieram principalmente como trabalhadores rurais, desempenhando um papel crucial no crescimento da economia do Brasil.

O Sonho e os Desafios: Os Bastidores da Colonização do Paraná

 



A colonização da Província do Paraná 

Ela iniciou-se em 1816 com a chegada de imigrantes açorianos para Rio Negro e ficou um pouco estagnada até 1853 quando as colônias já em operação eram apenas três e o número de imigrantes somente 420 pessoas. Desta data até 1864 apenas mais dois núcleos foram organizados e com pequeno número de imigrantes. Com a emancipação político administrativa de São Paulo, os governantes da nova Província desde o início perceberam a necessidade de desenvolver uma política imigratória própria, que suprisse as suas necessidades e guardasse às condições especiais do seu território. A meta a ser alcançada era criar uma agricultura de abastecimento tendo em vista o rápido crescimento esperado. Assim, procuraram desenvolver planos de colonização com a criação de núcleos agrícolas nos arredores dos centros urbanos. Entre as décadas de 1830 e 1860, os colonos alemães que estavam em Rio Negro e depois aqueles da colônia Dona Francisca, vieram se estabelecer em pequenas chácaras ao redor de Curitiba, a capital da província do Paraná. Com isso a população da cidade cresceu, assim como a produção dos alimentos básicos necessários para sustentar esse crescimento. Tendo em vista o êxito alcançado com essa experiência, novos projetos foram concebidos para a criação de outras colônias de imigrantes com a intenção de colonizar intensamente o planalto curitibano, o litoral e outras regiões da província. Assim, regularmente foram sendo criadas diversos núcleos coloniais, denominados de colônias: Assunguy, em 1871, em Cerro Azul, com colonos franceses, ingleses e italianos; colônia Argelina, em 1870, nos arredores de Curitiba, com colonos das mesmas três etnias; a colônia Pilarzinho, em 1870, também em Curitiba, com colonos alemães, poloneses e italianos; a colônia D. Pedro, em 1876, em Curitiba, com colonos poloneses, franceses e italianos; a colônia D. Augusto em 1876, em Curitiba, com colonos poloneses prussianos e italianos; a colônia Santa Maria do Novo Tirol, em 1878, em Piraquara, com colonos italianos trentinos, os tiroleses; a colônia Antônio Rebouças, em 1878, em Campo Largo, com colonos italianos; colônia Senador Dantas também em 1878, em Curitiba com colonos provenientes de Vicenza; colônia Alfredo Chaves, em 1878, em Colombo, com imigrantes italianos vicentinos e tiroleses; colônia Muricy, em 1878 em Curitiba, com colonos italianos e poloneses; colônia Inspetor Carvalho, em 1878, em São José dos Pinhais, Curitiba, com imigrantes italianos; colônia Virmond, em 1878, na Lapa, com colonos italianos, alemães russos; colônia Maria Luiza, 1879, em Paranaguá, com colonos italianos; colônia Santa Felicidade, em 1880, em Curitiba com italianos provenientes da região do Vêneto; colônia Mendes de Sá, em 1885, em Campo Largo, com colonos italianos; colônia Antonio Prado em 1886, em Colombo, com colonos italianos; colônia Santa Gabriela, 1886, em Almirante Tamandaré, com colonos italianos; colônia Santa Cristina, em 1879 em Campo Largo com colonos italianos; colônia Alice em 1886, em Campo Largo com colonos italianos; colônia Barão de Taunay, em 1886, em Araucária com colonos italianos; colônia Presidente Faria em 1886, em Colombo com imigrantes italianos; colônia Maria José, em 1887, em Quatro Barras com colonos italianos; colônia Visconde de Nacar em 1888, em Paranaguá, com imigrantes italianos; colônia Santa Cruz, em 1888, em Paranaguá, com colonos italianos; colônia Santa Rita, em 1888, em Paranaguá, com colonos italianos; colônia Eufrásio Correia em 1888, em Bocaiuva do Sul com colonos italianos; colônia Campo Largo da Roseira, em 1888, em São José dos Pinhais com colonos italianos; colônia Balbino Cunha, em 1889 em Campo Largo, com colonos provenientes da região do Vêneto; colônia Dona Maria, em 1889 em Campo Largo, com imigrantes italianos; colônia Ferraria em 1890 em Campo Largo, com colonos italianos; colônia Inglesa em 1889, em Foz do Iguaçu com colonos italianos, ingleses e alemães; colônia Santa Helena, em 1889 em Foz do Iguaçu, com colonos provenientes de Veneza; colônia Contenda, em 1890, em Contenda, com colonos italianos; colônia Acccioly, em 1891, em Curitiba, com colonos italianos; colônia Cecília, 1891 em Palmeira, com imigrantes italianos; colônia Bela Vista, em 1896 em Curitiba, com colonos de origem vêneta; colônia Afonso Pena, em 1908 em São José dos Pinhais com colonos italianos; colônia Pinho de Baixo, em 1908, em Irati, com colonos italianos; colônia Uvaranas, 1924 em Ponta Grossa, com colonos italianos. Pensando em criar um centro de produção agrícola, não distante do porto de Paranaguá, com a intenção futura de exportar as safras para outros centros do império e mesmo para o exterior foi dado seguimento à implantação da Colônia Alessandra, precursora no Paraná desse modelo iniciado na capital, só que em uma escala maior. Nessa época ainda não estava pronta a estrada de ferro até o litoral e nem a estrada da Graciosa estava totalmente traçada, era somente pouco mais de uma picada, usada pelos tropeiros, que levavam e traziam produtos do porto de Paranaguá para Curitiba, aventureiros e viajantes comerciais. A tentativa foi feita com a assinatura de um contrato entre o governo imperial brasileiro e Savino Tripoti, um empresário italiano de Abruzzo, especializado em organizar assentamentos de colonos com a ajuda do seu irmão Pietro, em terras de sua propriedade em Alessandra, mais tarde chamada de Alexandra, município de Paranaguá, no litoral do Paraná. A colônia foi finalmente inaugurada em 1870 com colonos italianos, mas, por diversos motivos, entre os quais uma alegada má administração por parte do empresário, teve vida curta com a maioria dos imigrantes ali assentados exigindo para ser removidos daquele local. Assim, as pressas foi criada em 1877 a colônia Nova Itália, em Morretes, com colonos italianos, não muito distante da primeira, mas, com as mesmas imperfeições da primeira: local inadequado, muito quente e abafado, presença de animais peçonhentos e abundante presença de molestos insetos - moscas e mosquitos - que causavam diversas doenças graves nos moradores, assistência médica quase inexistente, quando era disponível o preço cobrado pelos atendimentos nas cidades vizinhas eram muito altos para os colonos, falta de estradas, falta de material para construção das casas, falta de sementes para o plantio, falta de e agasalhos e alimentação adequada. Com todo esse quadro era certo que esta nova colônia teria o mesmo fim da sua predecessora. As colônias Dantas e Santa Felicidade, ambos bairros da atual Curitiba, foram criadas para receber os imigrantes italianos removidos do litoral - colônias Alessandra e Nova Itália - mas não foram formadas através da compra dos lotes pelo governo, mas através da compra particular pelas famílias imigrantes.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






A Pobreza Rural na Itália do Século XIX e a Emigração Para as Américas: Uma Análise do Censo Agrário de 1880

 




"E eu deixo a minha casa, deixo o país e vou para a América para capinar. Parto para fazer fortuna e há um mês não vejo mais terra: só céu e mar. E deixo minha casa, a bela Itália, para ir tão longe, em terra estrangeira. E sob um outro céu e uma outra estrela levo os garotos e a mulher. E lá começa a melancolia pensando no campo onde nasci, naquela velha e santa mãe e em todas as coisas queridas do passado...” Assim escreveu um emigrante italiano.


O escritor e pesquisador italiano Delisio Villa, em seu livro Storia Dimenticata afirma que “Il 1860 è proprio l’anno zero della nostra emigrazione. Nel 1860 inizia la lunga marcia degli italiani alla ricerca di nuovi spazi, in Europa ed in America.” Traduzindo, "O ano de 1860 é realmente o ano zero de nossa emigração. Em 1860 começa a longa marcha dos italianos em busca de novos espaços, na Europa e na América." Esse grande êxodo ou longa marcha durou quase um século, sem que ninguém fizesse esforços concretos para contê-la, parece até que as autoridades de então a estimulava e considerando-a como uma espécie de válvula de pressão, para aliviar a crescente tensão social que ameaçava explodir no país com uma grande guerra civil. Nesse período, mais de trinta milhões de italianos, homens, mulheres e crianças, por conta própria e sem ajuda do estado, foram obrigados a abandonar o seu país para conseguir sobreviver.

No relatório do Censo Agrário, realizado por uma comissão parlamentar especial designada pelo governo italiano em 1880 chegaram a importantes conclusões. O objetivo principal desse censo era coletar informações sobre a distribuição da propriedade da terra na Itália, bem como obter dados sobre a produção agrícola, a situação econômica dos agricultores e outras questões relacionadas à agricultura. O resultado do censo foi usado mais tarde para a formulação de políticas agrárias pelo governo italiano. Entre os principais resultados apurados pelo censo temos:
  • A concentração da propriedade da terra estava nas mãos de poucos proprietários, com cerca de 3% da população possuindo mais da metade da terra cultivável;
  • A presença de uma grande quantidade de pequenas propriedades, mas muitas delas eram insuficientes para sustentar as famílias dos agricultores;
  • A predominância da produção de cereais, em detrimento de outras culturas agrícolas;
  • A existência de muitas terras abandonadas e improdutivas, especialmente no sul da Itália;
  • A presença de um grande número de trabalhadores agrícolas assalariados, que viviam em condições de pobreza e insegurança;
  • A falta de investimentos na modernização da agricultura, com pouca utilização de tecnologia e técnicas agrícolas avançadas;
  • A necessidade de intervenção do Estado para resolver os problemas estruturais da agricultura italiana, através da implementação de reformas agrárias e incentivos para o desenvolvimento da produção agrícola.
Assim, o relator dessa comissão parlamentar descreveu a situação da Itália:

"Nos vales dos Alpes e dos Apeninos, e também nas planícies, especialmente na Itália Meridional, e até mesmo em algumas províncias entre as mais bem cultivadas da alta Itália, surgem casebres onde em um único quarto esfumaçado e sem ar e luz vivem juntos homens, cabras, porcos e galinhas. E tais casebres se contam talvez em centenas de milhares". 

Seguem mais alguns trechos do relatório do referido censo de 1880:

  1. "O sistema de propriedade, com todas as suas complicações, apresenta-se como o mais característico e o mais difundido aspecto do nosso agro. Em torno dele gira toda a economia camponesa, da qual, por sua vez, depende todo o resto das atividades sociais e econômicas do país."
  2. "A grande maioria dos proprietários é formada por pequenos proprietários, que possuem terras insuficientes para suas necessidades e que, para compensar a falta de extensão, têm que se dedicar a trabalhos alheios à agricultura."
  3. "O estado de abandono e descuido em que se encontram muitas terras é uma consequência direta da incapacidade do proprietário de mantê-las e cultivá-las adequadamente."
  4. "O analfabetismo, especialmente nas áreas rurais, é um grande obstáculo para o desenvolvimento da agricultura, já que impede a adoção de novas técnicas e práticas mais eficientes."
  5. "O êxodo rural, que vem ocorrendo em larga escala nas últimas décadas, agrava ainda mais a situação, já que muitas terras ficam abandonadas e não cultivadas, enquanto a população urbana cresce rapidamente."
De acordo com o mesmo Censo Agrário Italiano de 1880, as condições das moradias dos agricultores eram bastante precárias. O relatório apontou que muitas das casas eram pequenas, escuras, úmidas e mal ventiladas, o que levava a problemas de saúde e higiene para os moradores. Além disso, muitas moradias  eram compartilhadas por várias famílias, aumentando a superlotação e as condições insalubres. O documento também menciona que a falta de acesso a água potável e sistemas de saneamento básico eram comuns em muitas áreas rurais da Itália na época.
O Censo Agrário Italiano de 1880 também  constatou que a saúde dos camponeses era bastante precária. As condições sanitárias eram ruins e a mortalidade infantil era alta. Além disso, muitas famílias tinham dificuldades em obter assistência médica adequada, devido à falta de recursos financeiros e à falta de médicos e hospitais nas áreas rurais. A situação era ainda pior para as famílias mais pobres, que muitas vezes viviam em condições insalubres e não tinham acesso a alimentos nutritivos e água potável.

O Censo Agrário de 1880 aborda a questão da pelagra na Itália, que contribuiu para o empobrecimento das populações rurais de muitas regiões, especialmente no Vêneto: 

"A Pelagra ou Mal do Pellegrino é uma doença desconhecida nos países do norte da Europa e da América. Na Itália, é uma das enfermidades mais frequentes e mais cruéis que afetam os camponeses. [...] As causas da Pelagra foram estudadas com grande cuidado pelos médicos. Alguns a atribuem a uma alimentação insuficiente, outros a um regime alimentar inadequado, outros ainda a uma disposição especial do organismo, a influências atmosféricas, e a muitos outros fatores. [...] A Pelagra ataca especialmente os camponeses, que são obrigados a viver em casas úmidas, mal ventiladas e sujas, e que são privados de alimentos nutritivos e variados."

"Os camponeses afetados pela Pelagra tornam-se pálidos, magros e fracos. A pele, especialmente nas partes expostas do corpo, torna-se áspera e descama, como se tivesse sido queimada pelo sol. A seguir, a pele começa a escurecer e a descamar, e o doente sofre com dores e coceiras insuportáveis. Gradualmente, a doença se espalha para outras partes do corpo, como os lábios e as gengivas, causando lesões profundas e dolorosas. A Pelagra pode levar à morte em casos graves." O relatório continua:

"O remédio mais eficaz contra a Pelagra é uma alimentação saudável e nutritiva, especialmente rica em proteínas e vitaminas. No entanto, isso é difícil de conseguir para muitos camponeses, que são pobres e mal alimentados. É necessário, portanto, que o Estado e as autoridades locais intervenham para melhorar as condições de vida dos camponeses, fornecendo-lhes habitações mais saudáveis, promovendo uma agricultura mais moderna e produtiva, e educando-os sobre os princípios básicos de higiene e nutrição."


A literatura que temos disponível sobre as causas internas da onda migratória transoceânica do período 1880-1914 é vasta: podemos resumir esquematicamente o fato de que o fluxo foi determinado por motivos tanto de ordem demográfica (diminuição do índice de mortalidade e estabilização do índice de natalidade após 1870), quanto de ordem econômica (entre estes últimos, o primeiro lugar é assumido, sem dúvida, pela depressão agrícola dos anos 80, que provocou uma crise de disponibilidade alimentar). Mas foi sobretudo a impossibilidade, para os camponeses, de conseguirem dinheiro vivo que impulsionou massas inteiras a atravessar o oceano. Todos esses fenômenos, juntamente com a taxa sobre a farinha, cujo não pagamento podia comportar o confisco da propriedade, resultaram em uma sangria do mundo rural italiano. Entre os anos de 1875 e 1881, foram confiscadas 61.831 pequenas propriedades na Itália pela falta de pagamento da taxa sobre a farinha. Já entre os anos de 1884 e 1901, foram confiscadas 215.759 propriedades. Esse foi um dos fatores que levou a uma grande onda migratória italiana para outros países, principalmente para a América. A "taxa sobre a farinha" era um imposto cobrado sobre a moagem do trigo na Itália. Ela foi introduzida no início do século XIX, durante a ocupação napoleônica da Itália, e depois foi mantida pelos governos italianos que se seguiram. O objetivo inicial da taxa era arrecadar dinheiro para financiar as guerras napoleônicas, mas ela acabou sendo mantida como uma fonte de receita para o governo. A taxa era cobrada dos donos dos moinhos, que eram obrigados a pagar uma quantia em dinheiro para cada saco de farinha que produziam. A taxa era especialmente pesada para os pequenos proprietários de terras e para os camponeses pobres, que tinham que pagar uma grande parte de sua produção em dinheiro para o governo cobrada diretamente no moinho. A falta de pagamento da taxa sobre a farinha poderia levar à apreensão e confisco das propriedades dos camponeses, o que contribuiu para a crescente concentração fundiária na Itália e para a emigração em massa de camponeses italianos para outros países. Os camponeses perdiam suas terras devido à falta de pagamento da taxa sobre a farinha. Esta taxa era cobrada sobre a moagem do trigo e os proprietários de moinhos eram os responsáveis por pagá-la. Porém, muitas vezes, os proprietários de moinhos não repassavam a taxa cobrada dos camponeses que entregavam seu trigo para ser moído. Isso acontecia principalmente nas regiões mais pobres da Itália, onde os camponeses não tinham condições financeiras de arcar com os custos da taxa. Quando o governo descobria que a taxa não havia sido paga, ele poderia confiscar as terras do camponês para cobrir a dívida. Isso acabou levando a uma crescente concentração fundiária na Itália, com um pequeno número de grandes proprietários de terras detendo a maior parte das terras aráveis do país. A perda de suas terras tornou-se uma das principais razões pelas quais os camponeses italianos emigraram em massa para outros países, como o Brasil, Argentina e Estados Unidos, em busca de melhores condições de vida e oportunidades econômicas.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




Mães: O Pilar da Família e da Sociedade

 


FELIZ DIA DAS MÃES

As mães são seres humanos incríveis, capazes de dar à luz e criar um novo ser humano. Elas são responsáveis por nos trazer ao mundo, nutrir, cuidar e proteger desde o momento em que somos concebidos. A maternidade é uma experiência única e inigualável, e a partir do momento em que uma mãe descobre que está grávida, começa a jornada de criar e nutrir um novo ser humano. 
Durante os nove meses de gestação, a mãe fornece ao feto tudo o que ele precisa para crescer e se desenvolver dentro de seu ventre. Quando o bebê nasce, é a mãe que o acolhe em seus braços, oferece seu leite e cuida de todas as suas necessidades básicas. Nos primeiros anos de vida, a mãe é a principal figura de referência da criança, e seu amor, carinho e cuidado são fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. O amor de uma mãe é capaz de superar qualquer obstáculo e vencer qualquer desafio. Elas são capazes de enfrentar noites sem dormir, alimentar seus filhos mesmo quando estão doentes, acalmar seus medos e preocupações, e estar lá para eles em todos os momentos. Além de nos dar a vida, as mães são responsáveis por nos ensinar muitas coisas importantes. Elas nos mostram como ser gentis, respeitosos e responsáveis, e nos ensinam a importância de sermos bons cidadãos e membros da sociedade. Suas lições são valiosas e duram a vida toda. 
No entanto, nem todas as mães têm a oportunidade de dar à luz. Há muitas mães adotivas que escolhem trazer para suas vidas crianças que precisam de amor e cuidado, e que não tiveram a sorte de ter uma mãe biológica presente. Essas mães são igualmente importantes e dedicadas, e seu amor é tão forte quanto o das mães biológicas.
As mães são seres humanos incríveis, capazes de dar à luz e criar um novo ser humano. Elas são responsáveis por nos trazer ao mundo, nutrir, cuidar e proteger desde o momento em que somos concebidos. A maternidade é uma experiência única e inigualável, e a partir do momento em que uma mãe descobre que está grávida, começa a jornada de criar e nutrir um novo ser humano. Durante os nove meses de gestação, a mãe fornece ao feto tudo o que ele precisa para crescer e se desenvolver dentro de seu ventre. Quando o bebê nasce, é a mãe que o acolhe em seus braços, oferece seu leite e cuida de todas as suas necessidades básicas.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo de uma criança, e a mãe é a principal figura de referência nesse período. O amor de uma mãe é capaz de superar qualquer obstáculo e vencer qualquer desafio. Elas são capazes de enfrentar noites sem dormir, alimentar seus filhos mesmo quando estão doentes, acalmar seus medos e preocupações, e estar lá para eles em todos os momentos. Além de nos dar a vida, as mães são responsáveis por nos ensinar muitas coisas importantes. Elas nos mostram como ser gentis, respeitosos e responsáveis, e nos ensinam a importância de sermos bons cidadãos e membros da sociedade. Suas lições são valiosas e duram a vida toda.
Infelizmente, a maternidade nem sempre é fácil. As mães enfrentam desafios diários e muitas vezes sacrificam seu tempo e suas necessidades em prol dos filhos. Elas são multitarefas, equilibram o trabalho, a família e as responsabilidades domésticas, muitas vezes sem receber o reconhecimento que merecem. É importante lembrar que as mães também são seres humanos, com suas próprias necessidades e desejos. É fundamental apoiar e valorizar as mães em todas as suas formas e escolhas.
Não podemos esquecer das mães que perderam seus filhos. A dor de uma mãe que perdeu um filho é indescritível, e essas mães merecem todo o nosso amor e compaixão. É importante lembrar que essas mães também são mães, mesmo que seus filhos não estejam mais presentes fisicamente. Seus filhos sempre estarão em seus corações e em suas memórias, e sua dedicação e amor por eles nunca morrerá.
No Dia das Mães, é importante lembrar de todas as mães que existem em nossas vidas. Nossas próprias mães, avós, tias, irmãs e amigas que são mães. Todas elas merecem ser lembradas e homenageadas. O amor de uma mãe é um amor incondicional, que ultrapassa todas as barreiras e limites. É um amor que dá força, coragem e inspiração para enfrentar os desafios da vida. 
Assim, com o intuito de reforçar o significado desse dia, termino dizendo que as mães são seres humanos incríveis que desempenham um papel fundamental em nossas vidas. Elas nos dão a vida, nos ensinam lições valiosas e nos oferecem amor incondicional. O Dia das Mães é uma oportunidade de lembrar e homenagear todas as mães que existem em nossas vidas, sejam elas biológicas, adotivas ou aquelas que estão presentes em nossos corações e memórias. Vamos valorizar e agradecer às mães por tudo o que elas fazem por nós todos os dias.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


Riconoscere le Diverse Forme di Maternità: Celebrare il Giorno della Mamma In Tutte le sue Forme

 

 


FELICE GIORNO DELLA MADRE

Le madri sono le uniche persone al mondo che hanno il potere di darci la vita. Sono responsabili di portarci al mondo, nutrirci, prendersi cura e proteggerci sin dal momento in cui siamo concepiti. La maternità è un'esperienza unica e incomparabile. Dal momento in cui una madre scopre di essere incinta, inizia il viaggio di creare e nutrire un nuovo essere umano. Durante i nove mesi di gravidanza, la madre fornisce al feto tutto ciò di cui ha bisogno per crescere e svilupparsi nel suo grembo. Quando il bambino nasce, è la madre ad accoglierlo tra le sue braccia, offrirgli il suo latte e prendersi cura di tutte le sue esigenze primarie. Nei primi anni di vita, la madre è la figura principale di riferimento per il bambino, e il suo amore, affetto e cura sono fondamentali per lo sviluppo fisico, emotivo e cognitivo. L'amore di una madre è in grado di superare qualsiasi ostacolo e vincere qualsiasi sfida. Sono capaci di affrontare notti insonni, nutrire i loro figli anche quando sono malati, calmare le loro paure e preoccupazioni e essere lì per loro in ogni momento. Oltre a darci la vita, le madri sono responsabili di insegnarci molte cose importanti. Ci mostrano come essere gentili, rispettosi e responsabili, e ci insegnano l'importanza di essere buoni cittadini e membri della società. Le loro lezioni sono preziose e durano per tutta la vita. Purtroppo, non tutte le madri hanno l'opportunità di dare alla luce. Ci sono molte madri adottive che scelgono di portare nella loro vita bambini che hanno bisogno di amore e cura e che non hanno avuto la fortuna di avere una madre biologica presente. Queste madri sono altrettanto importanti e dedicate, e il loro amore è forte quanto quello delle madri biologiche. Le madri sono figure essenziali nelle nostre vite sin dal momento in cui nasciamo, e la loro influenza dura per tutta la nostra esistenza. Ci amano incondizionatamente e sono sempre pronte ad aiutarci, sostenere e guidare, anche nei momenti più difficili. Il Giorno della Madre è una data molto speciale e celebrata in tutto il mondo, è un momento in cui possiamo esprimere il nostro amore e la nostra gratitudine per tutto ciò che le nostre madri hanno fatto per noi. È un'opportunità per onorare la dedizione e il sacrificio che fanno ogni giorno per renderci le persone che siamo oggi. Non ci sono parole sufficienti per descrivere l'amore di una madre, è un amore incondizionato e indistruttibile. Anche quando commettiamo degli errori, sono sempre lì per sostenerci e perdonarci. Ci insegnano a essere compassionevoli, gentili e amorevoli verso gli altri e ci mostrano come essere forti nei momenti difficili. Le madri sono esempi di forza e coraggio, sono capaci di affrontare qualsiasi sfida e superare qualsiasi ostacolo per proteggere e prendersi cura dei loro figli. Sacrificano i propri desideri e bisogni per la felicità dei loro figli e lo fanno con gioia e amore. Il ruolo delle madri è fondamentale nello sviluppo emotivo e psicologico dei bambini. Aiutano a costruire l'autostima, la fiducia e il senso di sicurezza dei loro figli, oltre ad insegnare valori importanti come l'onestà, la gentilezza e il rispetto. Le madri sono le prime insegnanti dei loro figli e la loro influenza si estende per tutta la vita. Le madri hanno anche un ruolo importante nella formazione della personalità e del carattere dei loro figli. Sono le prime a identificare e nutrire i talenti e le abilità e aiutano a guidare i figli nella scelta della carriera e nella presa di decisioni importanti. L'amore e il sostegno delle madri possono essere la base per il successo e il raggiungimento dei traguardi dei figli. Non importa cosa accada nella vita, l'amore di una madre non svanisce mai. Anche quando i figli diventano adulti e lasciano casa, le madri continuano ad amarli e sostenerli in tutte le fasi della vita. Sono una fonte costante di ispirazione e motivazione e il loro amore incondizionato è uno dei più grandi regali che possiamo ricevere nella vita.
Le madri sono figure essenziali nella nostra vita e il loro amore è incomparabile. Nel giorno della festa della mamma, dobbiamo onorare e ringraziare le nostre madri per tutto l'amore, il sostegno e la dedizione che ci hanno dato nel corso degli anni. È un'opportunità per ricordare l'importanza delle madri nelle nostre vite e per riconoscere tutto il duro lavoro che fanno per aiutarci a raggiungere i nostri sogni e obiettivi.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

A Conexão entre as Condições Rurais na Itália do Século XIX e a Emigração em Massa: Uma Análise do Censo Agrário de 1880

 


"E eu deixo a minha casa, deixo o país e vou para a América para capinar. Parto para fazer fortuna e há um mês não vejo mais terra: só céu e mar. E deixo minha casa, a bela Itália, para ir tão longe, em terra estrangeira. E sob um outro céu e uma outra estrela levo os garotos e a mulher. E lá começa a melancolia pensando no campo onde nasci, naquela velha e santa mãe e em todas as coisas queridas do passado...” Assim escreveu um emigrante italiano.


O escritor e pesquisador italiano Delisio Villa, em seu livro Storia Dimenticata afirma que “Il 1860 è proprio l’anno zero della nostra emigrazione. Nel 1860 inizia la lunga marcia degli italiani alla ricerca di nuovi spazi, in Europa ed in America.” Traduzindo, "O ano de 1860 é realmente o ano zero de nossa emigração. Em 1860 começa a longa marcha dos italianos em busca de novos espaços, na Europa e na América." Esse grande êxodo ou longa marcha durou quase um século, sem que ninguém fizesse esforços concretos para contê-la, parece até que as autoridades de então a estimulava e considerando-a como uma espécie de válvula de pressão, para aliviar a crescente tensão social que ameaçava explodir no país com uma grande guerra civil. Nesse período, mais de trinta milhões de italianos, homens, mulheres e crianças, por conta própria e sem ajuda do estado, foram obrigados a abandonar o seu país para conseguir sobreviver.
No relatório do Censo Agrário, realizado por uma comissão parlamentar especial designada pelo governo italiano em 1880 chegaram a importantes conclusões. O objetivo principal desse censo era coletar informações sobre a distribuição da propriedade da terra na Itália, bem como obter dados sobre a produção agrícola, a situação econômica dos agricultores e outras questões relacionadas à agricultura. O resultado do censo foi usado mais tarde para a formulação de políticas agrárias pelo governo italiano. Entre os principais resultados apurados pelo censo temos:
  • A concentração da propriedade da terra estava nas mãos de poucos proprietários, com cerca de 3% da população possuindo mais da metade da terra cultivável;
  • A presença de uma grande quantidade de pequenas propriedades, mas muitas delas eram insuficientes para sustentar as famílias dos agricultores;
  • A predominância da produção de cereais, em detrimento de outras culturas agrícolas;
  • A existência de muitas terras abandonadas e improdutivas, especialmente no sul da Itália;
  • A presença de um grande número de trabalhadores agrícolas assalariados, que viviam em condições de pobreza e insegurança;
  • A falta de investimentos na modernização da agricultura, com pouca utilização de tecnologia e técnicas agrícolas avançadas;
  • A necessidade de intervenção do Estado para resolver os problemas estruturais da agricultura italiana, através da implementação de reformas agrárias e incentivos para o desenvolvimento da produção agrícola.
Assim, o relator dessa comissão parlamentar descreveu a situação da Itália:

"Nos vales dos Alpes e dos Apeninos, e também nas planícies, especialmente na Itália Meridional, e até mesmo em algumas províncias entre as mais bem cultivadas da alta Itália, surgem casebres onde em um único quarto esfumaçado e sem ar e luz vivem juntos homens, cabras, porcos e galinhas. E tais casebres se contam talvez em centenas de milhares". 

Seguem mais alguns trechos do relatório do referido censo de 1880:

  1. "O sistema de propriedade, com todas as suas complicações, apresenta-se como o mais característico e o mais difundido aspecto do nosso agro. Em torno dele gira toda a economia camponesa, da qual, por sua vez, depende todo o resto das atividades sociais e econômicas do país."
  2. "A grande maioria dos proprietários é formada por pequenos proprietários, que possuem terras insuficientes para suas necessidades e que, para compensar a falta de extensão, têm que se dedicar a trabalhos alheios à agricultura."
  3. "O estado de abandono e descuido em que se encontram muitas terras é uma consequência direta da incapacidade do proprietário de mantê-las e cultivá-las adequadamente."
  4. "O analfabetismo, especialmente nas áreas rurais, é um grande obstáculo para o desenvolvimento da agricultura, já que impede a adoção de novas técnicas e práticas mais eficientes."
  5. "O êxodo rural, que vem ocorrendo em larga escala nas últimas décadas, agrava ainda mais a situação, já que muitas terras ficam abandonadas e não cultivadas, enquanto a população urbana cresce rapidamente."
De acordo com o mesmo Censo Agrário Italiano de 1880, as condições das moradias dos agricultores eram bastante precárias. O relatório apontou que muitas das casas eram pequenas, escuras, úmidas e mal ventiladas, o que levava a problemas de saúde e higiene para os moradores. Além disso, muitas moradias  eram compartilhadas por várias famílias, aumentando a superlotação e as condições insalubres. O documento também menciona que a falta de acesso a água potável e sistemas de saneamento básico eram comuns em muitas áreas rurais da Itália na época.
O Censo Agrário Italiano de 1880 também  constatou que a saúde dos camponeses era bastante precária. As condições sanitárias eram ruins e a mortalidade infantil era alta. Além disso, muitas famílias tinham dificuldades em obter assistência médica adequada, devido à falta de recursos financeiros e à falta de médicos e hospitais nas áreas rurais. A situação era ainda pior para as famílias mais pobres, que muitas vezes viviam em condições insalubres e não tinham acesso a alimentos nutritivos e água potável.
O Censo Agrário de 1880 aborda a questão da pelagra na Itália, que contribuiu para o empobrecimento das populações rurais de muitas regiões, especialmente no Vêneto: 

"A Pelagra ou Mal do Pellegrino é uma doença desconhecida nos países do norte da Europa e da América. Na Itália, é uma das enfermidades mais frequentes e mais cruéis que afetam os camponeses. [...] As causas da Pelagra foram estudadas com grande cuidado pelos médicos. Alguns a atribuem a uma alimentação insuficiente, outros a um regime alimentar inadequado, outros ainda a uma disposição especial do organismo, a influências atmosféricas, e a muitos outros fatores. [...] A Pelagra ataca especialmente os camponeses, que são obrigados a viver em casas úmidas, mal ventiladas e sujas, e que são privados de alimentos nutritivos e variados."

"Os camponeses afetados pela Pelagra tornam-se pálidos, magros e fracos. A pele, especialmente nas partes expostas do corpo, torna-se áspera e descama, como se tivesse sido queimada pelo sol. A seguir, a pele começa a escurecer e a descamar, e o doente sofre com dores e coceiras insuportáveis. Gradualmente, a doença se espalha para outras partes do corpo, como os lábios e as gengivas, causando lesões profundas e dolorosas. A Pelagra pode levar à morte em casos graves." O relatório continua:

"O remédio mais eficaz contra a Pelagra é uma alimentação saudável e nutritiva, especialmente rica em proteínas e vitaminas. No entanto, isso é difícil de conseguir para muitos camponeses, que são pobres e mal alimentados. É necessário, portanto, que o Estado e as autoridades locais intervenham para melhorar as condições de vida dos camponeses, fornecendo-lhes habitações mais saudáveis, promovendo uma agricultura mais moderna e produtiva, e educando-os sobre os princípios básicos de higiene e nutrição."

A literatura que temos disponível sobre as causas internas da onda migratória transoceânica do período 1880-1914 é vasta: podemos resumir esquematicamente o fato de que o fluxo foi determinado por motivos tanto de ordem demográfica (diminuição do índice de mortalidade e estabilização do índice de natalidade após 1870), quanto de ordem econômica (entre estes últimos, o primeiro lugar é assumido, sem dúvida, pela depressão agrícola dos anos 80, que provocou uma crise de disponibilidade alimentar). Mas foi sobretudo a impossibilidade, para os camponeses, de conseguirem dinheiro vivo que impulsionou massas inteiras a atravessar o oceano. Todos esses fenômenos, juntamente com a taxa sobre a farinha, cujo não pagamento podia comportar o confisco da propriedade, resultaram em uma sangria do mundo rural italiano. Entre os anos de 1875 e 1881, foram confiscadas 61.831 pequenas propriedades na Itália pela falta de pagamento da taxa sobre a farinha. Já entre os anos de 1884 e 1901, foram confiscadas 215.759 propriedades. Esse foi um dos fatores que levou a uma grande onda migratória italiana para outros países, principalmente para a América. A "taxa sobre a farinha" era um imposto cobrado sobre a moagem do trigo na Itália. Ela foi introduzida no início do século XIX, durante a ocupação napoleônica da Itália, e depois foi mantida pelos governos italianos que se seguiram. O objetivo inicial da taxa era arrecadar dinheiro para financiar as guerras napoleônicas, mas ela acabou sendo mantida como uma fonte de receita para o governo. A taxa era cobrada dos donos dos moinhos, que eram obrigados a pagar uma quantia em dinheiro para cada saco de farinha que produziam. A taxa era especialmente pesada para os pequenos proprietários de terras e para os camponeses pobres, que tinham que pagar uma grande parte de sua produção em dinheiro para o governo cobrada diretamente no moinho. A falta de pagamento da taxa sobre a farinha poderia levar à apreensão e confisco das propriedades dos camponeses, o que contribuiu para a crescente concentração fundiária na Itália e para a emigração em massa de camponeses italianos para outros países. Os camponeses perdiam suas terras devido à falta de pagamento da taxa sobre a farinha. Esta taxa era cobrada sobre a moagem do trigo e os proprietários de moinhos eram os responsáveis por pagá-la. Porém, muitas vezes, os proprietários de moinhos não repassavam a taxa cobrada dos camponeses que entregavam seu trigo para ser moído. Isso acontecia principalmente nas regiões mais pobres da Itália, onde os camponeses não tinham condições financeiras de arcar com os custos da taxa. Quando o governo descobria que a taxa não havia sido paga, ele poderia confiscar as terras do camponês para cobrir a dívida. Isso acabou levando a uma crescente concentração fundiária na Itália, com um pequeno número de grandes proprietários de terras detendo a maior parte das terras aráveis do país. A perda de suas terras tornou-se uma das principais razões pelas quais os camponeses italianos emigraram em massa para outros países, como o Brasil, Argentina e Estados Unidos, em busca de melhores condições de vida e oportunidades econômicas.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




A Coragem dos Imigrantes Italianos: A História de Matteo e sua Família

 



𝐀 𝐉𝐨𝐫𝐧𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐌𝐚𝐭𝐭𝐞𝐨: 𝐃𝐚 𝐈𝐭𝐚́𝐥𝐢𝐚 𝐚𝐨 𝐁𝐫𝐚𝐬𝐢𝐥


Era o ano de 1890 e Matteo, um emigrante italiano, decidiu ser hora de deixar sua terra natal em busca de uma vida melhor para si e sua família. A Itália não saía de um longo ciclo de desemprego, pobreza e até fome em muitas regiões. O país não oferecia um bom futuro e pensando nos filhos ele juntou todas as suas economias e comprou passagens no navio Adria que partiria de Gênova em direção ao Rio de Janeiro. Matteo, era viúvo há já três anos, viajou com seus cinco filhos: Giovanni, Francesco, Vittorio, Maria e Assunta. A travessia do oceano não foi fácil, as condições de viagem eram precárias e muitos passageiros adoeceram. Durante a longa, monótona e interminável viagem marítima, eles puderam conhecer outros imigrantes italianos que também estavam buscando uma vida melhor no Brasil. Compartilhavam histórias de suas terras natais e formaram laços de amizade que durariam por muitos anos. Mas, finalmente, após várias semanas de viagem, eles chegaram ao Rio de Janeiro. Ao desembarcarem, foram recebidos pelas autoridades brasileiras em um porto agitado e movimentado, muito diferente de tudo o que eles haviam visto antes. Matteo e os filhos ficaram maravilhados com tudo o que viam, mas o que mais os impressionou e marcou foi encontrar inúmeras pessoas de pele escura, eram, como souberam depois, os descendentes dos antigos escravos trazidos da África. As longas praias com areias muito brancas e as verdejantes montanhas entorno do porto eram de formato muito bonito, mas, não tiveram muito tempo para contemplar as belezas do seu novo país, sabiam terem de continuar a jornada para chegar ao seu destino. 
Embarcaram em outro navio de menor calado que os levaria ao porto de Paranaguá, no estado do Paraná, encerrando finalmente as incômodas viagens por mar. Durante a curta travessia, enfrentaram uma forte, mas rápida, tempestade, que os deixou muito assustados e apreensivos. Mas, com a ajuda de Deus, chegaram ao porto de destino em segurança. Este era bem menor daquele do Rio de Janeiro e também muito menos movimentado. 
De lá, seguiram de trem até a cidade de Curitiba, onde se estabeleceram na Colônia Dantas, inaugurada doze anos antes e já com muitos moradores, onde Matteo adquiriu um grande terreno. Ao chegarem na capital do Paraná, tiveram que se adaptar a uma nova língua e cultura. Na colônia eles tiveram poucas dificuldades para se comunicar com os moradores do local, pois quase todos eram italianos como eles, também se adaptaram rapidamente com os costumes brasileiros. Gradualmente, foram aprendendo a língua e se ajustando à nova vida em uma cidade muito grande para eles, pois na Itália moravam numa pequena e pacata vila do interior. Trabalharam duro, mas, com firmeza e alegria para construir uma nova vida no Brasil. Giovanni, o filho mais velho que já era maior de idade ao sair da Itália, conseguiu emprego em uma fábrica de louças, enquanto Francesco e Vittorio começaram a trabalhar com o pai que era um marceneiro. Maria e Assunta ajudavam nos serviços casa e cuidavam da horta entorno da casa, da qual tiravam parte do sustento da família e também podiam ganhar algum dinheiro com a venda, para os vizinhos, dos produtos excedentes colhidos.
Matteo, e os filhos não eram analfabetos, além do dialeto da vila onde moravam também falavam italiano, o que muito os ajudou. Tinham estudado os quatro anos do primário ainda na Itália. Matteo era, por herança das gerações anteriores, um hábil marceneiro e com as economias trazidas da Itália, obtidas com a venda da casa e outros bens, além de comprar o lote e aos pouco construir a moradia, em pouco tempo conseguiu também construir uma pequena oficina ao lado da casa. Ficou muito feliz e orgulhoso por conseguir sozinho dar uma vida melhor para seus filhos, mas nunca se esqueceu de suas raízes italianas. Em casa só se comunicavam no dialeto italiano e as filhas cozinhavam pratos tradicionais da região do Vêneto de onde vieram. Mesmo longe do país de origem, eles mantiveram vivas a língua e a cultura italiana. Com o tempo a família prosperou bastante, sobretudo devido à qualidade dos belos móveis, das portas e janelas para casas que fabricavam, muito requisitados pelos curitibanos mais abastados. Eles nunca esqueceram as dificuldades que enfrentaram durante a viagem e sempre foram gratos pela nova vida que encontraram no Brasil. 
Com o tempo, a Colônia Dantas se tornou um bairro próspero de Curitiba, passando a se chamar Água Verde, com muitas famílias italianas e de algumas outras nacionalidades que se estabeleceram lá. Matteo se tornou um líder local na colônia e ajudou outros imigrantes italianos a se fixarem na região. Com o seu trabalho eles também ajudaram na construção da nova igreja do bairro, que passou a ser uma paróquia, separando-se daquela de Santa Felicidade. Fornecendo portas, janelas e assoalho, participaram ativamente como sócios fundadores na construção da Sociedade Garibaldi, um grande clube italiano de Curitiba que existe até hoje, onde os imigrantes podiam se reunir, conversar em sua língua materna e manter vivas as suas tradições. 
Os filhos de Matteo se casaram com outros imigrantes italianos e formaram grandes famílias. Continuaram morando na mesma cidade sempre colaborando com a comunidade italiana de Curitiba e mantendo viva a cultura de seus antepassados.A história de Matteo e seus filhos é um exemplo de coragem, perseverança e resiliência, e uma prova de como a imigração pode enriquecer uma sociedade.


Conto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


O Poder e a Corrupção na Eleição do Doge de Veneza: Os Bastidores do Jogo Político

 

Sala del Maggior Consiglio





Doge Leonardo Loredan 1501 - 1505

 



 
A Demorada e Complexa Eleição de um Doge


Como acontece em todos os governos do mundo, entorno do cargo de doge, se moviam  não só interesses familiares, econômicos e de poder, mas, também abusos e rivalidades mal disfarçadas. Nos primeiros séculos da história veneziana, alguns doges tentaram tornar o seu poder absoluto e hereditário. Em 1268 para por fim a esse tipo de ideia foi introduzida a promessa ducal, uma espécie de contrato que o doge firmava com o Maior Conselho, que era o verdadeiro centro do poder do estado veneziano, que limitava os seus poderes e um novo mecanismo eleitoral a ser usado para a escolha do futuro doge. Este complicado sistema de eleição foi mantido até a queda da república em 1797, com a invasão das tropas napoleônicas. 



Doge Andrea Gritti 1455 - 1538


A demorada eleição se desenvolvia em diversas fases: primeiro o conselheiro mais jovem devia sair do palácio ducal e descer até a Basílica de San Marco. Depois de rezar fervorosamente deveria pegar pela mão o primeiro menino que encontrasse e levá-lo para o palácio. Era o denominado balotin  o encarregado de extrair as esferas da votação de uma urna. Todos os eleitores deviam obviamente fazer parte do Maior Conselho e deveriam ter completado a idade de trinta anos. No dia escolhido para a eleição do novo doge, todos os que tinham o direito de votar, se reuniam na Sala do Maior Conselho. Ali, em uma urna, estavam as esferas, em número exato ao total dos membros votantes. Em trinta destas esferas estava escrito "elector". O menino, ou balotin  extraia uma esfera por vez e a consignava sucessivamente a um dos votantes. Os conselheiros que tinham recebido a esfera com a palavra elector se reuniam e sorteavam nove nomes entre eles. Estes nove se reuniam e escolhiam outros quarenta conselheiros - os primeiros quatro dos nove tinham o direito de escolher cinco nomes e os cinco deles restantes podiam propor quatro nomes cada um. Todos esses quarenta conselheiros que tinham sido escolhidos faziam uma nova extração entre eles e designavam doze representantes, os quais por sua vez elegiam outros vinte e cinco conselheiros, estes por sua vez deveriam escolher, através de novo sorteio, nove nomes entre eles. Estes nove deveriam escolher outros quarenta e cinco conselheiros, os quais por sua vez deviam escolher onze nomes. Estes últimos onze conselheiros deveriam eleger quarenta e um "grandes eleitores" os quais elegeriam o novo doge. Era eleito doge aquele que conseguisse o maior número de preferências, com o mínimo de vinte e cinco votos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

As Raízes Italianas de Itaperuna: Algumas Famílias Pioneiras que Ajudaram a Construir a Cidade

 




Vapor Colombo no Porto de Livorno em 1901 


Na Itália como também no Brasil, o fenômeno da imigração italiana continua merecendo cada vez mais atenção por parte dos estudiosos da matéria. Inúmeros pesquisadores deram mais  atenção para os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, duas das regiões onde a chegada de imigrantes italianos foi bem maior em relação a outros grupos imigrados.
A grande maioria concentrou suas análises nos imigrantes oriundos das regiões do norte da Itália: os vênetos, os lombardos e os friulanos, que constituíram a maioria, e do sul da Itália, os imigrantes provenientes da Campania, da Calabria, de Abruzzo e da Sicília.
Apesar de um pouco ignorado, o Rio de Janeiro também foi um dos estados brasileiros que recebeu muitos imigrantes italianos, que se fixaram em quase quarenta municípios fluminenses, para trabalharem nas lavouras de café. Entre esses imigrantes vindos de  várias partes da Itália, muitos  eram provenientes da região do Lazio, onde está a atual capital federal do país, região que não conheceu um grande movimento migratório para o Brasil.
Vários são os imigrantes italianos provenientes da região do Lazio, Província de Roma, mais especificamente das cidades de Proceno e Graffignano ambas na província de Viterbo, que se estabeleceram nas imediações do distrito de Varre-Sai, região pertencente ao município de Itaperuna, no interior do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1897 e 1898.
Chegaram ao Brasil com os vapores Attività e Colombo, respectivamente nos anos de 1887 e 1889. Estes são alguns dos sobrenomes dos italianos que chegaram à região:


Boni, Bertolini, Bianconi, Bandoli, 

Balducci, Bianchi, Demartini, Cagnaci,

 Capaccia, Castoni, Celebrini, 

Calidoni, Constantino, Esposti, Fratejani, Fabri,

 Frangilli, Ferrari, Fitaroni, Frangilo, 

Faloti, Giovannini, Gorini, Gentil, Grillo, 

Gallo, Lira, Mantence, Mugnari, 

Muruci, Martelini, Mazelli, Paolante, 

Potente, Pulitini, Purificati, 

Pizano, Pani, Polastreli, Pirozzi, 

Pellegrini, Possodeli, Pavanelle, 

Privato, Riguetti, Ridolfi, Tardani, 

Tramontana, Tupini, Vioti, 

Spalla , Zambroti 

Do pequeno município de Proceno, província de Viterbo, região do Lazio vieram as famílias:


Bianchi

Biaconi

Castoni

Grillo

Lira

Pellegrini

Pirozzi

Ponziani

Tramontana


Do comune de Graffignano,  também da província de Viterbo, região do Lazio, entre outras, vieram as famílias:


Anicetti

Capaccia

Gorini

Morini

Ridolfi







Torna Viagem: A Tragédia a Bordo do Navio Carlo Raggio com Emigrantes Italianos

 



A Tragédia a Bordo do Navio Carlo Raggio

Em uma de suas tantas travessias do Atlântico, o navio a vapor Carlo R, da companhia de navegação Carlo Raggio, no dia 27 de Julho de 1893, no porto de Nápoles, recebeu a bordo cerca de 1.400 emigrantes italianos com destino à Santos, zarpando no mesmo dia em direção ao Brasil, onde deveria atracar com sua carga humana no porto do Rio de Janeiro, naquela época o único porto de entrada de imigrantes no país.
O Carlos R. com 101 metros de comprimento e 13 metros de largura, era um daqueles muitos antigos cargueiros que, a toda pressa, foram mal readaptados pelas diversas companhias de navegação italianas, como navio de transporte de passageiros, para aproveitar o boom da emigração, ligando os portos italianos com o Brasil e Argentina.
Nesse mesmo ano estava grassando uma epidemia de cólera em Nápoles, o que por si só já seria uma temeridade da companhia embarcar passageiros nesse porto. A conduta correta seria não receber a bordo passageiros provenientes de zonas epidêmicas de cólera.
Logo, no quarto dia de viagem, surgiu um caso da doença, a qual devido a superlotação e as precárias condições higiene a bordo se transformaria em uma grande epidemia quando alcançavam a linha do Equador. 
O comandante, ao invés de retroceder viagem para o lazareto de Nápoles, onde os doentes poderiam ter recebido tratamento, continuou a viagem, informando às autoridades que os casos não eram de cólera mas de gastrenterite. Um erro intencional ou não, que custou a vida de centenas de passageiros.
Durante a travessia, dezenas de casos tinham sido identificados e inúmeros já eram os mortos, transformando a embarcação em um sanatório flutuante quando chegaram ao porto do Rio de Janeiro. Este era  naquela época a parada obrigatória para todos os navios de passageiros com emigrantes que chegavam ao Brasil. Era o porto de entrada dos emigrantes.
O Carlo R não estava sozinho nesse infortúnio, pois, dois outros vapores italianos também ali estavam retidos, pelos mesmos problemas de epidemias a bordo. Eram os vapores Remo e o Vicenzo Florio, ambos abarrotados de emigrantes italianos e também com diversos mortos durante a travessia. 
As instalações portuárias do Rio de Janeiro, não tinham as mínimas condições de tratar e abrigar esses milhares de passageiros doentes ou contaminados pelo temível cólera.
O governo brasileiro, após algumas semanas, acertadamente, não permitiu atracasse e nem o desembarque de passageiros desses navios, sob pena de transformar o Rio de Janeiro na porta de entrada de uma epidemia de grandes proporções por todo o Brasil. Ainda não existia antibióticos, que é o tratamento adequado para o cólera, o qual somente apenas há alguns anos antes tinham identificado o agente bacteriano responsável. 
Os navios não obtendo a ordem para o desembarque, nem mesmo dos seus tripulantes, foram escoltados, por navios da marinha de guerra brasileira, para longe do porto, nas proximidades da Ilha Grande, no sul da costa fluminense, para a espera da decisão final.
Os três navios foram desinfetados e reabastecidos com carvão, medicamentos, água, víveres e receberam ordens de retornar para  a Itália, com toda a sua carga de emigrantes. 
Esse era o procedimento padrão, adotado internacionalmente na época, empregado em todos os portos do mundo para situações semelhantes.
Nesse episódio, somente no Carlo Raggio, morreram 300 passageiros, obrigando as autoridades italianas a abrirem procedimento legal contra o comandante da embarcação e a empresa que o tinha fretado, ambos foram condenados.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS