A Morte e as Crendices dos Imigrantes Italianos no Rio Grande do Sul

  


Nas colônias pioneiras de imigrantes italianos, a morte era vista como um evento temido e misterioso, cercado por uma série de superstições, pavores, medos, simpatias e práticas. A preparação dos falecidos antes do enterro era uma tarefa solene e sagrada, envolvendo rituais e crenças que se estendiam além da simples preparação do corpo.

Uma das superstições mais comuns era a crença de que a alma do falecido permaneceria no corpo até o momento do enterro, e por isso era importante garantir que o corpo fosse preparado com todo o respeito e cuidado. Acredita-se que a alma permaneceria presa ao corpo se alguma parte fosse danificada ou não fosse tratada adequadamente.

Para garantir que a alma do falecido pudesse descansar em paz, havia uma série de práticas que deveriam ser seguidas. Uma delas era a lavagem do corpo com água benta, para purificá-lo e afastar os espíritos malignos. O corpo também era vestido com roupas limpas e brancas, e coberto com um lençol também branco.

Outra crença popular era que as janelas da casa deveriam ser abertas no momento da morte, para permitir que a alma do falecido pudesse escapar livremente. Além disso, todos os espelhos da casa eram cobertos, para evitar que o espírito do falecido ficasse preso neles.

Durante o velório, muitas vezes havia um ritual de acender velas ao redor do corpo do falecido, simbolizando a luz que guia a alma em sua jornada para o além. O velório era uma ocasião para reunir familiares e amigos, para compartilhar a dor da perda e homenagear o falecido.

Na manhã do enterro, era comum que a casa fosse limpa e purificada com água benta. Alguns acreditavam que o cheiro do incenso também ajudava a purificar o ambiente e afastar os espíritos malignos. O corpo era então colocado em um caixão, muitas vezes adornado com flores e velas, e levado em procissão até o local do enterro.

No cemitério, era costume jogar terra em cima do caixão antes de ele ser completamente baixado na cova, como forma de simbolizar o retorno do corpo à terra. Era comum também fazer o sinal da cruz com terra na testa do falecido, para garantir que ele pudesse descansar em paz.

Além dessas práticas, também havia uma série de superstições e crenças relacionadas à morte e ao luto. Por exemplo, acredita-se que o relógio da casa deveria ser parado no momento da morte, para simbolizar que a vida do falecido havia chegado ao fim. Também era comum cobrir os espelhos da casa com um lenço preto, para evitar que o espírito do falecido ficasse preso neles.

O luto também era visto como um processo sagrado, que exigia um período de reclusão e introspecção. Era comum que os familiares do falecido vestissem roupas pretas por um período de luto, que podia durar até um ano. Durante esse período, evitava-se festas e comemorações, e a família do falecido recebia visitas de condolências.

Outra crença relacionada ao luto era a ideia de que o falecido poderia enviar mensagens do além através de sonhos ou de objetos deixados para trás. Por exemplo, se um parente falecido aparecesse em um sonho, acreditava-se que isso era um sinal de que ele estava em paz e queria se comunicar com a família. Também era comum encontrar objetos que o falecido havia deixado para trás, como um chapéu ou um lenço, e interpretá-los como uma mensagem do além.

A preparação dos falecidos antes do enterro era, portanto, um evento muito importante nas colônias pioneiras de imigrantes italianos. As crenças e práticas relacionadas à morte e ao luto eram profundamente enraizadas na cultura e tradição dessas comunidades, e refletiam a importância que esses povos davam à honra e ao respeito pelos seus entes queridos falecidos.

Apesar de todas as superstições e crenças relacionadas à morte, havia uma profunda tristeza e dor associada à perda de um ente querido. Os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul enfrentavam a morte sem o auxílio de médicos e hospitais, e muitas vezes não havia tratamentos disponíveis para doenças graves.

A falta de recursos médicos e o isolamento geográfico das colônias também tornavam mais difícil lidar com a morte e o luto. Muitas vezes, a morte de um membro da comunidade era vista como um evento trágico e inesperado, e as famílias não tinham muitas opções para lidar com a dor e o sofrimento.

No entanto, apesar de todas as dificuldades, os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul mantinham sua fé e esperança em tempos melhores. A religião desempenhava um papel importante na vida dessas comunidades, e muitas vezes era vista como um conforto e uma fonte de consolo durante momentos difíceis.

Embora a falta de recursos médicos e as superstições e crenças em torno da morte pudessem tornar a vida nas colônias pioneiras de imigrantes italianos um desafio, essas comunidades perseveravam através da força da fé e da união. A preparação dos falecidos antes do enterro era apenas uma parte do complexo conjunto de crenças, práticas e tradições que definiam a vida desses povos, e que continuam a ser valorizados e respeitados até hoje.

Além disso, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul também tinham suas próprias tradições em relação ao enterro dos falecidos. Por exemplo, era comum que o caixão fosse transportado para a igreja local em um carro de boi, em um cortejo fúnebre que incluía a família do falecido e membros da comunidade.

Na igreja, o corpo era colocado em um caixão aberto para que os familiares e amigos pudessem se despedir. Era comum que os presentes fizessem o sinal da cruz e oferecessem uma última homenagem ao falecido antes de ele ser levado para o cemitério.

No cemitério, a família e amigos do falecido se reuniam em torno do túmulo para uma última despedida. O padre local realizava uma breve cerimônia de oração, e então o caixão era colocado na cova. Em seguida, os presentes jogavam flores sobre o caixão e faziam o sinal da cruz mais uma vez.

Após o enterro, era comum que a família do falecido oferecesse um banquete para a comunidade em sua casa. Essa tradição era uma forma de agradecer aos amigos e vizinhos pelo apoio e conforto oferecidos durante o período de luto, e também de honrar a memória do falecido.

No entanto, apesar das tradições e práticas em torno da morte e do enterro, os imigrantes italianos pioneiros nas zonas rurais do Rio Grande do Sul ainda enfrentavam muitos desafios e dificuldades em relação à saúde e bem-estar. A falta de médicos e hospitais, aliada ao isolamento geográfico e às condições precárias de vida, tornavam a vida nas colônias pioneiras extremamente difícil.

Para lidar com essas dificuldades, os imigrantes italianos pioneiros contavam com sua força, resiliência e união. A vida nas colônias era baseada em valores como a solidariedade, a colaboração e o trabalho duro, e as comunidades eram capazes de superar muitos obstáculos graças a esses valores.

Hoje, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul continuam a honrar as tradições e crenças em torno da morte e do luto que foram estabelecidas pelos seus pioneiros. Embora as condições de vida tenham melhorado e a medicina tenha avançado, essas tradições ainda são valorizadas como parte da rica herança cultural dessas comunidades.

Além disso, a preservação dessas tradições é importante para manter a conexão com a história e a identidade das comunidades de imigrantes italianos. Elas são uma forma de manter viva a memória dos pioneiros que se estabeleceram nessas terras, enfrentaram desafios enormes e construíram uma nova vida em um lugar distante e desconhecido.

As tradições em torno da morte e do luto também refletem a forte presença da religião na vida dessas comunidades. A fé católica era e ainda é uma parte fundamental da identidade dos imigrantes italianos, e as práticas em torno da morte e do luto eram moldadas pelos ensinamentos da Igreja.

Por exemplo, a crença na vida após a morte e na existência do céu e do inferno eram fundamentais para a compreensão da morte e do luto pelos imigrantes italianos. Eles acreditavam que a alma do falecido continuava a existir em outro lugar após a morte, e que o papel da comunidade era ajudar a preparar o falecido para essa jornada.

Outra prática comum entre os imigrantes italianos era a de oferecer missas pelo falecido após o enterro. Essas missas eram uma forma de continuar a honrar a memória do falecido e de pedir por sua alma, para que ela pudesse alcançar a paz eterna.

Em resumo, as tradições, superstições, pavores, medos, simpatias e práticas em torno da preparação dos falecidos antes do enterro nas colônias pioneiras de imigrantes italianos eram moldadas pela falta de recursos e pela forte presença da religião católica na vida das comunidades. Embora possam parecer estranhas ou supersticiosas aos olhos de algumas pessoas hoje em dia, essas práticas eram uma forma importante de lidar com a morte e o luto em uma época e lugar em que a vida era muito difícil.

Ao honrar essas tradições, as comunidades de imigrantes italianos nas zonas rurais do Rio Grande do Sul estão mantendo viva a memória de seus pioneiros e preservando uma parte importante de sua história e identidade cultural.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS